Na audição que iniciou com um hora de atraso, o réu Ndambi Guebuza começou por recordar como acabou por ser detido, após ser ouvido pela Procuradoria-Geral da República, em 2019.
“Eu fui chamado para a Procuradoria quando estava a caminho de Bilene e, quando cheguei lá, o Procurador Délio Portugal disse que eu era perigoso demais para continuar na via pública”, recordou.
Ao Tribunal Ndambi Guebuza disse que não esteve envolvido na concepção do projecto de protecção da Zona Económica Exclusiva, entretanto o Juiz Efigénio Baptista confrontou-o com e-mails teria trocado com António Carlos do Rosário e Teófilo Nhangumele sobre alteração do valor do projecto. Ainda assim, a resposta do réu continuou a ser “não estive envolvido e não confirmo a recepção dos e-mails”, disse.
Relativamente ao endereço “aguebuza@gmail.com”, o réu confirmou que é seu, mas não confirma a recepção de nenhum e-mail sobre as possíveis negociações.
Sobre as viagens, Ndambi Guebuza disse que só viajou com Bruno Langa, que é o seu amigo.
“Eu fui à Alemanha, porque tinha outros negócios lá, não estive com Carlos Do Rosário, nem com Teófilo. Eu estava noutra missão”.
Questionado sobre quem custeou a viagem, o réu, que é filho do antigo Chefe do Estado, respondeu: “Quem sempre tratou das minhas viagens é o protocolo da Presidência. Eu só tinha que avisar com antecedência que ia viajar. Não me lembro de onde fiquei hospedado”.
Ndambi Guebuza confirma que esteve em Abu Dhabi, nos escritórios da Privinvest em busca de oportunidades de negócio, mas não na companhia de Teófilo Nhangumele nem de Carlos Do Rosário.
Ainda a responder às questões do Juiz, Ndambi Guebuza disse que conheceu Teófilo Nhangumele agora que estão detidos no mesmo estabelecimento penitenciário: “talvez eu já o tivesse visto, mas já não me recordo dele”.
O réu Ndambi Guebuza, que continua a ser ouvido, não confirma que tenha custeado as viagens para Abu Dhabi e nega ter trabalhado para Privinvest. Apenas diz ter recebido um documento para tratar visto de residência em Abu Dhabi, onde refere que era mecânico hidráulico, o que, a seu ver, não é ilegal.
“Eu não tratei os documentos, eles é que trataram. Mas eu sei que não é ilegal, porque, se fosse ilegal, eu não teria conseguido viajar para lá.”
Ndambi Guebuza confirmou, ainda, que tem uma conta bancária em Abu Dhabi, que foi aberta por Jean Boustani.
O Juiz Efigénio Baptista fez a leitura dos extractos bancários de Ndambi Guebuza, que constam da acusação do Ministério Público, em que se mencionam a compra de casas, carros, pagamento de viagens e transferências de valores para outras contas.
O réu, que disse que não queria falar sobre o assunto supracitado, confirmou a recepção de valores monetários nas suas contas, em bancos da África do Sul, “resultantes de outras parcerias que tinha com Jean Boustani, que não posso revelar aqui”, referiu.
Ndambi Guebuza usou a audição para fazer um desabafo de que o Ministério Público não foi sério com o processo, por o ter prendido, não obstante a sua inocência, segundo alega, e deixa um desafio para que se prove o seu envolvimento.
“O Ministério Público não foi sério com este processo. Eu sou inocente até que se prove o contrário. Mas, eu fui considerado criminoso após ser preso. Eu fui exposto a nível internacional. Não estou a dizer que alguém é culpado, só estou a falar da forma como a PGR agiu, estou a aproveitar este momento para desabafar sobre este assunto que já me persegue há três anos”, expressou Ndambi Guebuza.
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